"Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que
recebestes, e será assim convosco. " Marcos 11:2
Tomando como base a vida de Abraão, podemos ver de vários ângulos, um
modelo de vida de fé e de crescimento espiritual constante. Quero enfocar aqui,
a marca que distingue sua jornada e peregrinação espiritual: Os "altares" que Abraão levantou, o conduzem
tanto a um crescimento de sua visão de Deus, quanto a um crescimento e formação
do "caráter de Cristo" em seu homem interior.
Nosso crescimento espiritual é descrito na Palavra de Deus, como um
processo lento e contínuo de apropriação do caráter moral de Deus, ou seja, o
caráter de Cristo. O Salmo 84:7 diz: "Vão indo de força em força...";
em Romanos 1:17 diz: "...de fé em fé..."; II Coríntios 3:18 diz:
"...somos transformados de glória em glória..."; João 1:16diz:
"Porque todos nós temos recebido ... graça sobre graça."
Um altar é um símbolo nas escrituras de adoração e consagração a Deus.
Não edificamos um altar para nós mesmos, mas para adorar a Deus, oferecer
sacrifícios a Ele e invocar o seu nome. O altar é símbolo de uma vida
espiritual, uma vida com Deus. Abraão foi chamado "amigo de Deus" em
Isaías 41:8, e essa comunhão, marcada pela vida de altar, revela a essência do
que é a verdadeira vida espiritual, ou seja, ela não consiste na medida de
nosso conhecimento e instrução acerca das coisas de Deus, mas no quanto somos
"amigos de Deus", no quanto andamos com Deus, no quanto Deus nos têm
como seu amigo em comunhão!
Abraão já em sua maturidade de vida, disse em Gênesis 24:40: "O
Senhor, em cuja presença eu ando...", expressando assim a qualidade e a
própria essência de toda a vida espiritual. Frequentemente nós desejamos que
Deus ande conosco e que Deus abençoe nossos caminhos, mas a marca da
consagração é andar com Deus em seus caminhos! É necessário um verdadeiro
quebrantamento, deixando o trabalho da cruz arando sobre nossas almas, e termos
uma disciplina espiritual para andar com Deus!
Sabemos que o altar no Velho Testamento é uma figura da cruz no Novo
Testamento, onde o verdadeiro cordeiro pascal foi imolado. O nosso Senhor Jesus
Cristo e a cruz são inseparáveis! Sem a cruz Cristo não é Cristo e Ele não pode
nos salvar! A cruz, mais do que um simples objeto de tortura para alguns, ou um
simples objeto de adorno para outros, define a própria natureza de Cristo! E
quanto a nós? Um cristianismo sem cruz não é cristianismo de forma alguma, e
sim uma pobre imitação da doutrina de Cristo. Uma vida cristã sem cruz não é
vida cristã, mas apenas um "ego" adornado com os ensinos de Cristo!
Nós necessitamos da cruz tratando profundamente conosco, para que possamos ser
homens e mulheres espirituais, vivendo vidas espirituais e andando com Deus
desfrutando de uma verdadeira comunhão com o Espírito Santo.
Durante a vida de fé de Abraão, nós constatamos a edificação de quatro
altares.Esses altares foram erguidos no processo de sua jornada interior de
conhecimento de Deus e amizade com Ele. Cada um destes altares aponta para um
aspecto do trabalho da cruz em nossas almas, ampliando assim a nossa
consagração, ou seja, o nosso relacionamento com Deus e nossa verdadeira
espiritualidade.
1°- ALTAR DA REVELAÇÃO
O primeiro altar foi edificado em Siquém (Gn 12:6-7), e podemos chamá-lo
de altar da revelação. Deus revelou-se ali a Abraão: "Apareceu o Senhor a
Abraão". Precisamos saber que a cruz e a revelação andam juntas. Na medida
em que a cruz trata conosco, é que teremos genuína revelação de quem Deus é; de
quem nós somos, do que a igreja é e do que o mundo é. Carecemos da visão real
destas quatro coisas para que vivamos uma vida que seja verdadeiramente espiritual!
Por causa da cruz, o apóstolo João sabia quem Deus era: "Deus é
Amor", "Deus é luz" em I João 4:8 e 1:5. Por causa da cruz, ele
sabia quem ele próprio era: "...seu servo (escravo) João" em
Apocalipse 1:1, e, "Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no
reino e na perseverança" (Apocalipse 1:9). Pela cruz, ele sabia o que era
a igreja: "Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do cordeiro". Pela
cruz, ele sabia o que era o mundo: "Não ameis o mundo".
Por outro lado toda genuína revelação de Deus a nós implicará em cruz,
ou seja, requererá que depositemos nossos corpos como sacrifício no altar de
Deus. Para que aquilo que de Deus foi revelado a nós seja "formado"
em nós e que não fique apenas em nosso intelecto como informação a respeito de
Deus. Este oferecer do nosso ser ao Senhor diário têm a finalidade de que o
trabalho da cruz possa reduzir-nos cada vez mais, fazendo Cristo aumentar em
nós cada vez mais. Isto é consagração.
Lembremo-nos ainda que embora seja a regeneração, o nascer de novo que
marca o início de nossa vida cristã, mas é a consagração que marca o início do
nosso crescimento até a maturidade cristã!
"Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que
recebestes, e será assim convosco. " Marcos 11:24
2°- ALTAR DA SEPARAÇÃO
O segundo altar na história de
Abraão foi edificado entre Ai e Betel (Gênesis 12:8), e podemos chamá-lo de
altar da separação. Abraão deixou Ai para trás e tinha Betel diante dele. Ai
significa literalmente "monte de ruínas" e Betel significa "Casa
de Deus".
Aqui podemos dizer que é a vida
de altar, a consagração, que permite que a cruz separe-nos do mundo, do amor
pelas coisas do mundo, enfim de "tudo o que há no mundo" (cobiças,
concupiscências e soberba). A cruz coloca o mundo para trás e mantém viva e
clara a visão da Casa de Deus que é Betel! E não somente pela visão de Betel,
mas a visão da cruz operando em nós, habilita-nos a participar de Betel, como
em I Pedro 2:5 fala de "sermos edificados casa espiritual, para sermos
sacerdócio santo...".
A cruz nos introduz na igreja
como Cristo passou pela cruz e a igreja surgiu. Nós também precisamos
"passar pela cruz" para que a igreja em sua realidade prática e viva
possa surgir. Só a cruz pode separar-nos do mundo e introduzir-nos na Casa de
Deus. Diante de Deus, por causa da obra da cruz de Cristo no calvário, nós nos
tornamos a Casa de Deus, a Igreja, o corpo de remidos. Mas o lado subjetivo
desta verdade, ou seja, refletir em nosso viver, depende do trabalho da cruz em
nossas vidas.
Note que após este segundo altar,
Abraão desce ao Egito "para aí ficar" (Gênesis 12:10), contrariamente
à vontade de Deus. Como muitas vezes acontece conosco, também Abraão tinha
experiências do altar, mas ainda seu "homem natural" não tinha sido
completamente tratado revelando uma independencia do Senhor nas suas escolhas e
idéias.
O Senhor tratou com ele,
misericordiosamente, como observamos em Gênesis 12:10-20, e o trouxe de volta.
Ele "fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até ao lugar onde primeiro
estivera a sua tenda, entre Betel e Ai; até ao lugar do altar, que outrora
tinha feito...". Abraão voltou ao mesmo ponto de onde se desviou! Deus não
pula etapas em nosso discipulado. O trabalho da cruz em nós tem dois lados: o
negativo e o positivo. Do lado negativo, "despe-nos do velho homem";
do lado positivo, reveste-nos do novo homem".
Mas devemos ficar atentos para
este fato: Quando Deus trata com as coisas negativas de nossa vida diante
d'Ele, este tratar não é a essência da santificação, pois esta é essencialmente
positiva! Deus nos conduz do ponto de onde nos desviamos d'Ele para, a partir
dali, com a vida de altar restaurada, andarmos novamente com Ele e assim
prosseguirmos compartilhando do Seu caráter em amizade com Ele. Ainda
acrescentamos que, este tratar de Deus conosco em uma área específica de nossa
vida (como esta da escolha de Abraão de ir para o Egito), é um tratar
progressivo e cada vez mais profundo, pois veja que anos depois Abraão
novamente escolhe erradamente um caminho natural, tentando ajudar Deus a gerar
Isaque. Neste ato de independência gera Ismael que não é o filho da promessa de
Deus.
3°- ALTAR DA COMUNHÃO
O terceiro altar erguido por
Abraão foi levantado logo após a sua separação de Ló em Gênesis 13:14-18. Aqui
temos mais um degrau na vida consagrada de Abraão. Este faz a escolha, mas por
causa da contenda entre seus pastores e os de Ló, ele pede a Ló que se aparte
dele escolhendo seu próprio caminho. Ló faz uma escolha de alguém que realmente
não conhecia o altar! Ele escolhe "a campina do Jordão", uma terra
boa para sua prosperidade econômica, e vai armando suas tendas até Sodoma, um
lugar de julgamento, pecado, figura do mundo!
Podemos então chamar este
terceiro altar de altar da comunhão. Ele foi edificado em Hebrom que significa
"comunhão, união". A cruz habilita-nos a ter aquela incessante
comunhão com Deus, uma verdadeira amizade com Deus! Como já disse Madame Guyon:
"O Senhor se coloca no exato lugar daquilo que Ele põe à morte em nossas
vidas". Já compreendemos isso diante do Senhor? Ele substitui para
adicionar, Ele divide para multiplicar. Quem conhece o Seu coração pode confiar
em Suas mãos!
4°- ALTAR DA ADORAÇÃO
O quarto altar na vida de Abraão
foi erguido no Monte Moriá. Podemos chamá-lo de altar da adoração (Gn 22:1-14).
Este altar reflete a vida madura de Abraão e o quanto ele já tinha aprendido
diante do Senhor. É de aceitação geral entre os estudiosos de tipologia, que
aqui Abraão até mesmo tipifica Deus como o Pai eterno. O que vemos aqui é um
homem absolutamente rendido a Deus, a ponto de sacrificar seu único e amado
filho.
Um homem que amava Deus a ponto
de confiar em Seus caminhos. Abraão nesse ponto era tão sensível à voz de Deus
que pôde discernir cada instrução de Deus, em cada passo do doloroso processo
de sacrifício.
Abraão o adorou no momento em que
oferecia o que tinha de mais precioso! Só a cruz nos torna verdadeiros
adoradores do Pai! Sem as marcas da cruz em nossas vidas, nós adoramos a nós
mesmos e nossas vidas demais para serem oferecidos a Deus!
Na verdade, neste altar Deus
coloca aquela parte mais íntima e preciosa de Abraão, o próprio coração de
Abraão que tinha o precioso Isaque. Deus assim tratou profundamente com Abraão,
e tornou-o um adorador!
Que nosso querido e fiel salvador
faça o mesmo conosco, pela sua misericórdia e para sua própria glória e honra.
Romeu Bornelli
RMI - REDE MUNDIAL DE
INTERCESSORES - Intercessão, um chamado para todos
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